Quinta Dona Sancha – Cerceal

“Assim eram os antigos, olhavam e viam o milagre que a vinha iria dar…”

O Quinta Dona Sancha Cerceal 2021:

Geralmente mais utilizada para compor cortes com outras uvas, a Cerceal Branca já foi uma das castas brancas mais cultivadas no Dão segundo registos da segunda metade do século XIX e é raro encontrar um rótulo feito 100% com esta casta, já que é uma uva difícil de ser trabalhada.

Devido à maturação tardia e a grande produtividade é preciso ter toda atenção focada no manejo desta casta, para que se consiga um bom equilíbrio entre açúcar e acidez. O Cerceal-Branco “é consistente em termos de produção e tem um componente ácido forte, mas é uma casta subvalorizada no Dão” conta Paulo Nunes. Na sua vinificação é preciso sempre trabalhar uma parte em inox (fermentação e estágio), porque ao contrário do Encruzado que “consegue romper a madeira, o Cerceal é mais lento no desenvolvimento dos aromas”. Por exemplo, mesmo sendo uma casta bastante contida em termos aromáticos, se fermentar o Encruzado a temperaturas mais baixas, consegue-se alguma exuberância. No Cerceal é mais difícil de conseguir. “A casta é mais neutra, mas evolui muito bem”.

É uma casta que geralmente possui elevada acidez, aromas discretos e enorme capacidade de envelhecimento.

Felizmente Paulo Nunes conhece muito bem esta casta e produz um Cerceal Branco que apresenta uma belíssima cor limão, discretos aromas da barrica, já que uma parte é vinificada em inox e a outra em barricas, harmonizados com as notas de mel e marmelo, uma fruta branca e toques florais e cítricos. No paladar é complexo, com a acidez bem presente, untuoso, sabor salino e incisivo, barrica bem integrada e com final longo e persistente.

Informações Técnicas:

Uvas: Cerceal Branca
Localização da vinha: Silgueiros – 290m de altitude, virada a Sul
Idade/produção por hectare: 36 anos / 6000kg/ha
Sistema de condução: Guyot Duplo
Densidade: 4000 pés/ha
Clima: Temperado mediterrânico, com influência atlântica
Solo: Granítico
Data de Colheita: 27 de Setembro
Tipo de colheita: Manual em caixas de 20kg
Vinificação: Fermentação em barricas de carvalho francês e cubas de inox, com temperatura controlada entre 14o-16oC. Duração de 28 dias
Estágio: 6 meses em barricas de carvalho francês de 500L (50%), mais 12 meses em garrafa

Caraterísticas Físico-químicas:
Álcool: 13%Vol. .
PH: 3,15
Acidez Total: 6,51 g ác. Tartárico/L
Açúcar residual: 0,8 g/L

PS: Em Portugal podem-se encontrar 3 castas com nome foneticamente semelhante, mas que são castas distintas, A Cerceal Branca, deste rótulo, presente principalmente no Dão e Douro, a Cercial da Bairrada e a Sercial da Ilha da Madeira.

Quinta Dona Sancha – House of Unique Wines

O conceito da Quinta Dona Sancha, eleito produtor revelação do ano de 2022 pela revista portuguesa Grandes Escolhas, homenageia a grandiosidade histórica de seus antepassados, uma herança que o Rui Parente, criador do projeto, honrosamente se propôs a preservar com devoção e respeito pela terra.

Dona Sancha Gonçalves, figura emblemática que dá nome à vinícola e antiga proprietária das terras da região de Silgueiros, instituiu em 1186 o padroado de Santa Maria de Silgueiros, dotando Silgueiros com terras e vinhas para cultivo agrícola, impulsionando o desenvolvimento de todo o território e a vinda da população para este local.

Após adquirir esta propriedade histórica de 47 hectares, localizada em Silgueiros, a 12 km de Viseu, na beira do rio Dão, Rui definiu prioridades muito claras para o seu projeto. Todo o investimento seria direcionado na recuperação das abandonadas vinhas velhas de até 80 anos, na criação de novas parcelas de vinhas e na construção de uma adega de produção com equipamentos modernos, porém respeitando as tradições e formas de construções históricas do local, utilizando materiais tradicionais da região como as grandes pedras de granito antigo e a criação de lagares de pedra para serem utilizados exatamente como eram antigamente.

Com as vinhas recuperadas e produzindo uvas de altíssima qualidade, sua prioridade passou a ser a qualidade de vinificação e para isso contratou a consultoria do enólogo Paulo Nunes, autor do primeiro artigo científico sobre a uva Encruzado, membro permanente da câmara de prova da CVR Dão, presidente do júri do concurso de Vinhos de Portugal e reconhecido internacionalmente, tendo sido distinguido como “Enólogo do Ano” em Portugal por duas vezes, em 2018 e 2020.

Como enólogo residente, trabalhando junto a Paulo Nunes nas operações diárias está Diogo Seabra e Santos. Com uma ligação com o mundo dos vinhos desde cedo, influenciado pelos avós, Diogo já passou por várias funções e projetos icônicos e agora, na Quinta Dona Sancha produz vinhos que valorizam a tradição e a inovação.

Na Quinta Dona Sancha, a cultura vinícola assenta numa filosofia de respeito pelo ambiente e sustentabilidade e há um dizer que fala que “somos gratos pelo que a terra dá”, portanto da mesma forma que Rui busca respeitar e preservar a história da região, está desenvolvendo em sua quinta um trabalho para resgatar as castas e vinhas ancestrais que estavam perdidas e já sem produção. Para isso disponibilizou 4 hectares de sua propriedade e em um trabalho conjunto com o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, fomenta a investigação e conservação de cerca de 40 castas antigas e históricas.

Como podemos ver, a jornada da Quinta Dona Sancha está intimamente ligada à história desta região e do próprio país e o Dão é um local que transborda de História e histórias, sendo um lugar de gente perseverante e acolhedora, cultura milenar, gastronomia ímpar, vinhos excelentes e paisagem esplêndida.